quinta-feira, 22 de julho de 2010

#1

[Para sempre em mim]

Quantos cigarros já fumei a pensar em ti? O frio a entrar-me nos ossos e o teu calor impenetrável, inabalável a qualquer temperatura ou intempérie exterior. O silêncio da noite remexido pelos meus dedos, resgatando o cheiro dos teus cabelos numa corda de contrabaixo invisível, ligando duas estrelas sempre próximas, brilhando uma para a outra, independentemente da distância ou lugar. Uma corda musical, com que te desato da memória, e com que, de olhos fechados, te liberto vibrando em mim - o teu som por dentro de mim - e os laços do varandim abraçados, abraçados também a mim e a ti, abraçados também a nós, para sempre apertados, para sempre, para sempre solidificados num metal moldado por um fogo antigo que nos encontrou. Apaguei o último cigarro e resisti a te ligar, esperando antes o teu telefonema que não chegou e tanta falta me fez. Mas deixa, não faz mal, sei que não pudeste por um qualquer motivo que não me apetece perguntar a razão. Talvez não tenhas sentido os meus dedos a tocarem-te e a procurarem os teus, mas eu, eu ouço-te sempre a vibrar por dentro, a vibrar em mim.

Sem comentários:

Enviar um comentário